Buraco do Tatu

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sábado, 24 de julho de 2010

Os Siqueiras e o Nascimento da Penha

Por Rogério Temporini


Citada em qualquer trabalho histórico sobre a origem dos bairros paulistanos do Tatuapé, Penha e São Miguel, a família Siqueira representa a origem da Penha como povoado organizado e centralizado, sobretudo em função da dedicação de dois padres desta família, Matheus Nunes de Siqueira e Jacinto Nunes de Siqueira. O culto à Nossa Senhora da Penha, materializado na pequena Ermida, originou hoje o grande Santuário e tornou sua santa a padroeira da Cidade[1]. Para uma breve biografia desta família e sua participação na história que contamos do bairro da Penha, situaremos a busca de informações em boa parte nas cartas de sesmarias (doações de terras) que conjuntamente aos pedidos de posse trazem-nos informações preciosas sobre o suplicante [2] e sobre as regiões de que se tratavam.


Abaixo, transcrevemos a carta de sesmaria em que o mais notório dos Siqueira, Padre Matheus Nunes de Siqueira, solicita a posse das terras que é atendida em 5 de setembro de 1668, pelo capitão-mor Agostinho de Figueiredo.


"Diz o licenciado Mateus Nunes de Siqueira, morador na Vila de São Paulo, que ele suplicante tem uma fazenda com ermida e curral de gado légua e meia desta Vila, na paragem chamada Tatuapé, terras que houve dos herdeiros do defunto Francisco Jorge, e por quanto não tem terras para lavrar e na testada destas terras para o Rio Grande em uma volta que faz o rio tem um pedaço de terra, dentro do qual há algumas campinas, brejais e restingas de mato que se pode lavrar, por isso pede a Vossa Mercê que, como procurador bastante donatário, lha faça mercê dar por sesmaria a terra que pede para maior aumento da capela, havendo também respeito ser o suplicante filho e neto de povoadores e não ter até agora carta de sesmaria; a qual terra correrá de umas Campinas que partem da banda de baixo do ribeirão do Tatuapé, correndo pelo Rio Grande e pela volta que o mesmo faz por uma campina que chamam Itacurutiba até uma aguada que foi o defunto João Leite. E.R.M. Cartório da Tesouraria da Fazenda de São Paulo, Livro 11 de Sesmarias antigas."


O Primeiro ponto a fixarmos é a origem de Padre Matheus. Algumas bibliografias sugerem que a dado momento ele chegou à região, vindo de suas andanças na catequese de índios dos sertões. De fato, padre Matheus era pregador do evangelho em missões sertão para dentro; porém, o texto de pedido de sesmaria informa ser o padre “ filho e neto de povoadores e não ter até agora carta de sesmaria...” . Não é possível averiguar com certeza se de fato era mesmo o padre descendente de povoadores da região ou se usou o argumento a seu favor, mas temos este trecho da carta para crer que Matheus nasceu na região, podendo ter sido sempre residente, naqueles tempos ainda uma fazenda encravada em inóspito sertão.


A Extensão da fazenda, já discutida mais atrás, pode ser avaliada de forma vaga. Para tanto, precisamos localizar os pontos de referência citados na carta. O Texto primeiramente diz que a fazenda parte do ribeirão Tatuapé. Sabe-se que o antigo ribeirão antes do encontro com o rio Anhembi (Tietê) corresponderia a região da Água Rasa, a sul do atual Tatuapé. Delimitado pelo referido ribeirão, agora encontraria a fazenda margens no Rio grande, hoje o rio Tietê, a partir do encontro dos dois rios. Se estenderia por longo curso beirando este rio, até o ponto que a carta cita como “volta que o mesmo faz por uma campina que chamam Itacurutiba...” Quase nenhuma informação se tem ao lugar citado hoje em dia, a não ser por uma referência que achamos em outra carta de sesmaria, uma concessão a um certo Rodrigues[3], em 1609: “...Campos de Itacurutiba no caminho que fez Gaspar Vaz que vae para Boigi Mirim a saber partindo da barra dum rio que se chama Cuayao...”; em sua tese de Mestrado em Lingüística pela USP, Edelsvitha Murillo diz corresponder esta referência à atual cidade de Suzano. Assim, se considerarmos estas informações, teríamos uma extensão grande para a propriedade de padre Matheus.


Fonte – Google Earth - 2010


E é nesta fazenda que nasceu, pela metade do Século 17, a pequena ermida. Discutida pelos vários “biógrafos” da Penha, parece seguro afirmar que a primeira igreja da Penha date entre1640 e 1650. Construída pelos padres irmãos, é causa e conseqüência do povoado incipiente e promissor.



[1] Informalmente, Nossa Senhora da Penha é considerada a padroeira de São Paulo

[2] Aquele que solicita a posse da terra

[3] Acreditamos neste caso ter este Rodrigues alguma ligação com Izabel Rodrigues, que a esta época fora dona da fazenda piqueri.

A História me fascina; propriamente, a história de minha cidade(São Paulo) e de sua formação, as migrações no estado de São Paulo, a história da ferrovia e as formações do folclore e da cultura musical do Sudeste.

Mas.. as "estórias" também sempre me envolveram e brilham ainda em minha memória; as "estórias" contadas pelo meu avô, sobre entidades folclorescas da escuridão, e suas digressões... Gosto do Lobisomen e do boitatá... E conversaremos sobre eles brevemente!