Buraco do Tatu

###### Assista Nosso Vídeos! >>> YOUTUBE #####
contato: rogeriotemporim@gmail.com

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Só Cristo Salva o Seminário da Penha

Fonte: www.saopauloabandonada.com.br


Artigos, Destaques — Por SPA em abril 21, 2010

Na história da humanidade o patrimônio histórico se faz presente nas mais variadas manifestações arquitetônicas possíveis, desde as belas Pirâmides do Egito, até a Muralha da China, passando por maravilhas como o Cristo Redentor e até a Estátua da Liberdade.

Alguns monumentos não resistem ao tempo, sendo destruídos pela natureza como o Colosso de Rodes ou o Farol de Alexandria. Já outros monumentos são destruídos pela ação do homem que, na vil necessidade de mostrar sua ganância ou burrice colocam abaixo patrimônios da humanidade como os Budas do Afeganistão, destruídos pelos Talebans.

Em São Paulo, mais precisamente no bairro da Penha de França, um vereador, um monsenhor e uma imobiliária querem repetir o feito dos terroristas afegãos, colocando abaixo a belíssima construção que atende pelo nome de Seminário da Penha.

O SEMINÁRIO

Construído no início da década de 1950, o antigo seminário foi inicialmente elaborado para ser um convento. Entretanto, devido ao seu tamanho grandioso optaram por transformá-lo em um seminário para os padres redentoristas. Na época de sua construção, o bairro da Penha se engajou completamente na iniciativa tanto com a mobilização de pessoal para a empreitada, como para a arrecadação de dinheiro que foi fundamental para a conclusão do audacioso projeto.

A identidade do prédio com a Penha é impossível de ser dissociada. Já se vão alguns séculos que a Penha de França tem uma importante participação na história da cidade de São Paulo, especialmente no cunho religioso. O bairro é intimamente ligado à fé católica e só no alto da colina, na região mais central da Penha se encontram três igrejas, todas elas altamente significativas para a história de São Paulo e do Brasil. O seminário complementa esta ligação entre história e religião na Penha.

Foco de formação de muitos sacerdotes o seminário foi vendo seu público diminuir à medida que outros novos seminários foram sendo abertos pelo Brasil até que, quando começou a ficar ocioso foi desocupado pelos redentoristas, tornando-se sede da Administração Regional Penha (o que hoje chamamos de subprefeitura). O local foi ocupado pelo poder municipal por alguns anos, até que mudou definitivamente para uma parte mais afastada do bairro.

Com a saída da Regional Penha, o local ficou apenas um curtíssimo período de tempo vazio, sendo então ocupado pelo Hospital Nossa Senhora da Penha, que tornou-se seu inquilino por muitos e muitos anos. O hospital permaneceria no local até próximo de 2000.

Desde então o prédio encontra-se vazio, e nos últimos anos começou a circular no bairro a notícia de que o prédio do antigo seminário será vendido e demolido.

SÓ CRISTO SALVA O SEMINÁRIO ?

Segundo apuramos, a transação que colocará abaixo parte da história da Penha de França já está praticamente decidida. Para que o negócio seja fechado basta a alteração da ZEPEC específica do bairro, o que segundo muitos não deverá demorar a sair. Dizem pessoas próximas a igreja de que até a empresa de demolição já foi contratada.

Porém a história poderia (e ainda pode) ser diferente. Entretanto, o calvário da Penha é bastante tortuoso. Para saber mais sobre o antigo Seminário da Penha conversamos com a arquiteta Ângela Maria Calábria, Francisco Folco curador do Memorial Penha de França e com o escritor e psicólogo José Morelli.

Segundo a arquiteta Ângela Calabria, o CONPRESP visitou o prédio do antigo seminário logo no início de 2009. A ideia da visita era para o órgão estudar o tombamento definitivo da área. Na época estiveram presentes o corpo técnico do CONPRESP e também foram convidados a ir ao local representantes do imóvel e interessados no tombamento.

Após a reunião todos ficaram animados com a preservação do imóvel mas o primeiro contato que pareceu ser tão animador logo esfriou e nada mais foi dito até que em 27 de outubro de 2009 ocorreu algo muito estranho: Uma nova comissão do CONPRESP voltou ao prédio do seminário, mas apenas pessoas interessadas na demolição do prédio e venda da área foram chamadas a participar. Em uma estranha visita ao seminário estiveram presentes o Monsenhor Calazans, o vereador Toninho Paiva além de representantes da construtora Stuhlberger. Os interessados na preservação que estiveram na visita anterior foram excluídos desta nova reunião, conclui Ângela.

Reprodução do jornal Gazeta Penhense confirma o que foi dito pela arquiteta Ângela Calabria, confiram:

Na primeira reunião, interessados na preservação do prédio foram chamados e ouvidos, como atesta outra edição do jornal Gazeta Penhense:

Qual teria sido a razão de não os chamarem para uma outra reunião ? Fica a pergunta para CONPRESP responder.

IGREJA DIFICULTA AÇÕES DE TOMBAMENTO:

Segundo o curador do Memorial Penha de França, Francisco Folco, o seminário não é o único local que sofre ação da igreja. Ele conta que em 2004 houve uma iniciativa no bairro, liderada por católicos, em tombar a igreja Nossa Senhora da Penha e este pessoal inclusive procurou o Memorial para obter auxílio para a ação. Foi preparado um abaixo assinado que começou a ter grande número de adesões por parte dos moradores do bairro, até que houve o pedido (ou ordem) de um padre local para que a iniciativa fosse suspensa.

Folco completa dizendo que a iniciativa em não tombar um imóvel facilita que o mesmo fique largado, esquecido, e se deteriorando até que sua descaracterização seja grande e permita que a única solução seja derrubar o imóvel.

O NOVO SEMINÁRIO:

Segundo o escritor José Morelli, mesmo com este prédio em perfeitas condições de uso, alguns anos atrás a igreja iniciou campanha arrecadatória para construção de um novo seminário mesmo tendo este a disposição. O prédio foi erguido e inaugurado na região do Itaim Paulista. Se fosse ocupado novamente o seminário poderia trazer uma grande movimentação na região, mas foi esquecido para que o novo fosse construído.

QUEM COMANDA A PENHA NÃO CONHECE O BAIRRO:

As maiores críticas dos moradores da Penha são dirigidas a subprefeitura da região. Segundo os moradores a Penha sofre com o descaso dos últimos prefeitos da cidade de São Paulo que entra mandato sai mandato só nomeiam subprefeitos que não tem nenhuma ou muito pouca ligação com a região.

O atual subprefeito da Penha, Cássio Freire é da região do M’Boi Mirim e entre os subprefeitos anteriores tinha até morador do Morumbi. Segundo estes mesmos moradores, é urgente a troca do subprefeito por alguém mais ligado ao bairro, com raízes penhenses e mais conectado aos anseios e problemas do bairro.

Em 29 de junho de 2009, o subprefeito da Penha esteve em visita ao Memorial Penha de França e prometeu lutar pela preservação do patrimônio histórico do bairro. Terá ele, como é comum entre os políticos, esquecido o que prometeu ? Sua visita ao Memorial foi coberta na época pela equipe do site São Paulo Abandonada & Antiga e pode ser conferida clicando aqui.

A Penha não é de hoje que é tratada com desprezo pelos políticos. Marta Suplicy prometeu um grande parque aos penhenses e entregou um grande piscinão que é um belo esgoto a céu aberto. Em dia de sol o cheiro nada agradável do recreativo parque-esgoto chega até as dependências da estação do Metrô, isso sem contar que o local está sempre repleto de urubus atraídos pelo mal cheiro.

O desprezo também atinge já se vão muitos anos a região do Mercado Municipal da Penha, e a avenida Gabriela Mistral, especialmente na região próxima do Tiquatira sempre cheia de lixo, sujeira e com um algumas favelas em crescimento vertiginoso. Fica aqui a sugestão ao vereador Toninho Paiva que diz lutar pela Penha, preocupar-se menos com o seminário da Penha e cuidar das partes carentes do bairro. Falar e cuidar de patrimônio histórico é para quem entende.

CONHEÇA O SEMINÁRIO DA PENHA (por dentro e por fora):

Uma das melhores maneiras de se confundir a população é escondendo ou manipulando a verdade. Isso era algo que se fazia muito bem no nazismo, ou para ser mais perto do brasileiro, durante o regime militar.

Como podem dizer que algo “é um lixo” por ai, quando na verdade é algo muito diferente disso ? Alguns interessados em ver o seminário no chão, andam dizendo que o prédio está acabado, caindo aos pedaços, irrecuperável. Mas se você tentar ir conhecer o seminário para tirar suas próprias conclusões, irá encontrar os portões fechados, tal qual na foto acima. O curioso é que trata-se de algo construído com a ajuda do cidadão penhense, mas ele próprio não pode entrar.

O São Paulo Abandonada & Antiga conseguiu entrar em todas as dependências do imóvel e brinda o leitor com fotos externas, internas e dos detalhes decorativos do prédio. Ao invés de uma construção decadente como apregoa-se por ai, encontramos um prédio magnífico, de estrututa robusta, sólida e sem nenhum problema além de poeira e abandono.

Vejam as fotos e tirem suas próprias conclusões. E não se esqueçam de lembrar neste ano de eleição daqueles políticos que querem apagar a história da Penha. Não há lugar para estes na história, tal qual desprezamos aqueles terroristas que destruíram o Buda do Afeganistão.

Crédito das fotos abaixo: Eduardo Morelli – Acervo do Memorial Penha de França

domingo, 4 de abril de 2010

Século XVI - A tribo de Ururai

Por Rogério Temporini


" João Ramalho (Vouzela, Viseu, Beira Alta 1493Piratininga, 1580) foi um aventureiro, explorador português, que se internou pelo mato e confraternizou com o gentio.

Filho de João Vieira Maldonado e Catarina Afonso de Balbode, era casado em Portugal com Catarina Fernandes, a quem nunca mais viu, depois da partida em 1512 numa nau, buscando a Ilha do Paraíso no Brasil. Naufragou na costa da futura capitania de São Vicente, hoje estado de São Paulo, por volta de 1513.

Encontrado pela tribo dos Guaianases, adaptou-se bem à vida no Novo Mundo, ganhando prestígio junto aos índios com quem vivia. Casou-se com a filha do Cacique Tibiriçá, Bartira, batizada Isabel Dias. Do casamento realizado pelo padre Manuel da Nóbrega resultaram nove filhos mas João Ramalho teve filhos também com numerosíssimas índias, já que na cultura nativa havia grande liberdade sexual e, além do mais, Ramalho queria agradar os demais caciques e estabelecer vínculos, ao receber suas filhas." Da Wikipédia, enciclopédia livre.


Segunda a tradição, João Ramalho teria sido o primeiro homem europeu a sozinho subir a serra em direção ao Planalto de piratininga. Teria descido das primeiras naus a aportarem em São Vicente e por vontade própria se embrenhado na mata morro acima. Na serra de Paranapiacaba (hoje região de Santo André) entrou em contato com os indígenas ali aldeados, guaianases da grande Nação Tupi e, como se refere o texto, desposou a filha do cacique Tibiriçá. Há relatos em cartas dos Jesuitas que ela teria por nome Potira, ao invés de Bartira, como em alguns textos posteriores.

Mas é o irmão de Tibiriçá, o Cacique Piquerobi, quem mais diretamente está ligado a história do bairro da Penha. As margens do Tietê, à época o "Rio Grande", "Rio Anhembi" ou "Rio Ururai", se estabelecia a tribo de Piquerobi, a grande tribo de Ururai, nome que se confunde com o do rio; possivelmente, porque deste dependiam inteiramente; dali retiravam o alimento e também o usavam para navegar pela extensão daquela vasta região. Habitavam a margem direita, a mesma em que estão hoje penha e São Miguel, e transitavam pela vasta planície.

No Planalto, os Jesuítas haviam estabelecido o colégio e reuniam a sua volta índios guaianases que ali se instalavam pouco a pouco, catequisados. Grande maioria deste índios vinham de Santo André da Borda do Campo, por convencimento do Padre Anchieta. Deste grupo de índios simpáticos a Anchieta vale destacar cacique Tibiriçá e o já citado João Ramalho, que lideravam estes indígenas.

Enquanto isto na planície a leste, os índios subordinados a Piquerobi preocupavam-se com a movimentação acima e temiam pelo futuro de seus costumes e tradições, mesmo pela integridade de seu povo.

Abaixo, do livro de Maria C. V. Santarcângelo, a gravura que possivelmente represente a "cisma" destes indígenas com os anchietanos e com o colégio de piratininga:


E adiantando-se aos acontecimentos e aos possíveis avanços do povoamento anchietano, os índios de Piquerobi atacam o colégio em 09 de Julho de 1562. Mas a tribo de Tibiriça resiste, como resistiria a outros ataques anos a frente. Assim, inevitavelmente, os guaianases de piquerobi são, pouco a pouco, visitados e catequisados pelos emissários da Companhia de Jesus.

Segundo consta nas "Actas da Câmara da Villa de S. Paulo", escritas de 1562 a 1596, em 12 de outubro de 1580 os índios que habitavam a região de São Miguel receberam carta de sesmaria que lhes dava "posse" da terra, em troca de submissão à Coroa, principalmente às mãos de Jerônimo Leitão, encarregado de organizar o processo de controle dos índios e de submetê-los ao controle dos portugueses. Deste ato de oficialização do domínio do estado sobre estas terras e sobre quem nelas estivesse, decorreria gradativamente o desmantelamento dos aldeamentos indígenas, dando lugar as primeiras fazendas em terras de piratininga.


BIBLIOGRAFIA

KOK. Glória. O sertão itinerante. Expedições da Capitania de São Paulo
no Século XVIII. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2004.

STELLA, Roseli Santaella. Da Aldeia de Ururaí a São Miguel Paulista, 1560 – 1797 - Artigo da Internet, em: http://capeladesaomiguel1622.com/

SANTARCANGELO, Maria Cãndida Vergueiro. Penha de França 1668 - 1968. São Paulo: Ed Leste Lar - 1968.

WIKIPÉDIA - Artigo http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Ramalho

A História me fascina; propriamente, a história de minha cidade(São Paulo) e de sua formação, as migrações no estado de São Paulo, a história da ferrovia e as formações do folclore e da cultura musical do Sudeste.

Mas.. as "estórias" também sempre me envolveram e brilham ainda em minha memória; as "estórias" contadas pelo meu avô, sobre entidades folclorescas da escuridão, e suas digressões... Gosto do Lobisomen e do boitatá... E conversaremos sobre eles brevemente!